Olá, tudo bom? Meu nome é Érika e espero que vocês gostem da história de hoje. 

O mundo de Ana

Ana tinha uma pele tão escura que em noite de lua nova seu corpo se confundia com o espaço. Tinha, também, um cabelo que se desenrolava enrolando pelo seu rostinho de bochechas avantajadas. Era uma fofura de menina. Mas, ouvir sua voz parecia uma raridade do universo. Às vezes, ela não se sentia parte desta realidade. O mundo a sua volta assemelhava-se mais a um quadro do qual não era capaz de se encaixar.
Ana se perdia muito mais nos seus pensamentos do que na bagunça do exterior. Tudo era tão confuso. Sentia-se, muitas vezes, incapaz de compreender o que havia por trás das películas humanas. Para ela, o mundo, na melhor das hipóteses, tinha uma cor translúcida. Mas, a doce menina, também, não permitia transparecer sua alma através da própria película. Evitava olhar fixamente para qualquer um. Corria do olhar fixo de qualquer um. Queria estar segura dentro do seu esconderijo.
Alguns dias, acreditava viver em um lugar paralelo, porque parecia temer o local onde estava. Ana se distraía com muita facilidade e desviava de ambientes tumultuados. Por isso cultivava poucos amigos. Fugia, ainda, de sons aparentemente comuns. Seu sentido, possivelmente, se expressava de maneira bem mais acentuada que o da maioria. Ela sentia todo esse emaranhado de sentimentos sem saber o porquê. 
Possuía um comportamento, como diria sua avó, um tanto quanto peculiar. Não era só timidez. Tinha uma certa obsessão por organizar seus lápis em escala de coloração. Mas, o que a criança mais gostava era do seu pequeno ursinho de pelúcia. Andava sempre que podia junto daquele brinquedo tão maravilhoso. Afinal, era ele que a protegia das criaturas que poderiam aparecer no seu sonho. Ana o amava muito.
 Infelizmente, durante uma mudança, seu companheiro fofinho foi deixado para trás. Sem querer, seu pai havia levado para caixinha de doações. Ana chorou por dias. “Como iria viver sem ele? Era sua metade” pensava a pequenina. Sua mãe tentou consolar. Seu pai até comprou outro brinquedo parecido. Mesmo assim, ainda houve resistência até o dia que se apaixonou pelo bambolê.
Algumas pessoas diziam que Ana era complicada, mal educada, nariz empinado. Os apelidos e justificativas para personalidade da menina eram inúmeros. Mas, a pequena não tinha culpa de nada disso. Ana era autista.