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Atenção, isso pode
ser ilusório
Em 1988, Cazuza
lançou a música Ideologia que, ainda
hoje, se propaga pelos mais diversos lugares. Na canção, o cantor diz desejar uma
ideologia para viver. Eu, particularmente, não aconselharia a ninguém cultivar
tais anseios. Mas, por quê? E, afinal, o que significa esse nome tão elegante?
Essa história
inicia-se com o filósofo Tracy, no ano de 1801, quando criou uma ciência que trataria
das ideias assim como a física estuda os fenômenos naturais. Ele denominou essa
área de ideologia. A proposta inicial demonstrava uma preocupação especial com
o retrato quase idêntico da realidade. Em decorrência disso, os primeiros ideólogos
orgulhavam-se por se considerarem opostos aos metafísicos. Contudo, essa
perspectiva transformou-se bruscamente após a declaração pública de Napoleão
Bonaparte acusando tais pensadores de serem responsáveis por parte da desgraça
social que assolava os franceses. Desde então, os estudiosos sucessores encaram-na
como um verdadeiro perigo à humanidade.
Na obra Visões e Ilusões Políticas, David Koyzis
afirma que esses pensamentos assumem uma característica idolatra. São espécies
de religiões políticas que apresentam um elemento sagrado que deve ser adorado.
Por exemplo, o liberalismo tem como centro a liberdade, a democracia a
soberania popular e o socialismo exalta a igualdade.
Devido ao fator mencionado
acima, os sujeitos que defendem essas ideias tendem a se perder nelas e, assim,
não identificar incoerências óbvias para quem não está subordinado. Deste modo,
é comum que se desenvolvam atitudes violentes em defesa dessas doutrinas.
Afinal, o homem está cegamente envolvido por uma “paixão ideológica”.
Entretanto,
ainda, gostaria de discorrer aqui sobre certos aspectos contraditórios de
algumas ideologias. Começaremos pela, talvez, mais polêmica: o socialismo ou
mesmo o socialismo democrata. Analisaremos do ponto de vista econômico, cuja
sustentação é impossível. Sobre isso, tem-se a teoria elaborada em 1920 pelo
austríaco Ludwig von Mises. Segundo
ela, resumidamente, a eliminação do sistema de preço culminaria numa ausência
de alocação racional de recursos. Por conseguinte, a economia socialista proporcionaria
um caos social em decorrência da não realização do cálculo econômico de maneira
satisfatória.
Com relação ao liberalismo, nota-se que apesar de seu
papel fundamental para os direitos humanos, ele apresenta dois irracionais
pontos principais. Em primeiro plano, pode-se citar a crença ilusória de que a
soberania do indivíduo perante a autoridade política externa proporcionaria a
salvação da humanidade. Em segundo plano, ressalta-se a afirmação de Koyzis de
que os liberais não conseguem enxergar no Estado uma instituição que tem
autoridade.
Essas ideias não são as únicas ideologias existentes.
Poderia, ainda, citar o nacionalismo, a democracia e o conservadorismo.
Entretanto, o que todas elas apresentam em comum e que me levam a ressaltar,
neste texto, é a propensão à divinização de tais correntes. Essa realidade
impõe um ambiente caótico e hostil à paz e ao respeito mútuo entre os
indivíduos.
Foi com esse intuito que há um tempo escrevi esse poema,
que sintetiza uma parte do que foi observado aqui:
“Eu gosto que me
confunda
Destrua minhas ideias
Que estavam em
um arranjo ideológico
Aprecio que
desfaça meus preconceitos
E permita-me,
assim, edificar um novo modelo
Que defina
minhas perspectivas e aspirações
Para que depois
Se, novamente,
se perderem em argumentos irracionais
Eu possa reformula-los
Como a
metamorfose ambulante de Seixas
Que foge de
credos ideológicos”