Onde estão as cartas
que escrevia de madrugada
enquanto esperava o sol clarear pela janela?
Eu vejo hoje com clareza
Que a pele que queimava em meu corpo
Não é feita de pedaços rebocados de cimento
É quase uma murulha diante da imensidão
Que devasta e enfeita o mundo a fora
Queria dizer que não vejo a hora
de dedilhar a esperança em um bocado de palavras
Bem ditas, benditas
Porque aprendi na verdade do mar
Que de nada me vale
Pôr o barco para navegar
Se não for esperta o bastante
e mergulhar
Vi que no porão da minha casa
Guardei na estante muitos poemas
incompreendidos
Vejo-os agora sob a luz solar
E era eu nas entrelinhas dos versos que
escrevi
Ando por enquanto devagar enquanto observo o pôr do sol
Me trazer outras mais tantas memórias
Que não sei ao certo se guardo-as à sete chave
ou deixo-as jogadas ao relento