Olá, galerinha! Tudo bom? O conto de hoje é do Rodrigo Barros ! Espero que vocês gostem.
Um amigo de Guerra
Hoje, 20/08/1976, venho aqui relatar um acontecimento que
marcou minha vida pra pior, malditos nazistas! Aqueles filhos da puta acabaram
com a minha vida e tiraram tudo o que mais tinha de feliz nela e como na época
não pude contar, deixo aqui, nessa gravação uma revelação que abrirá sua mente
para do que aqueles malditos eram capazes.
1939, ano em que a 2ª guerra mundial começou, aliados
versus eixo. Poucos anos depois, a Alemanha convocava camponeses e outros de
baixa renda para integrar-se ao exército, nesse meio de convocados estava eu,
Manuel Becker. Eu era camponês, casado, tinha três filhos, dois meninos e uma
menina, sendo a ordem de nascimento: Nina, Thomas, Hummels, e minha esposa
chamava-se Ann. Era uma família linda, era!
Durante a convocação, alguns dos militares iam
pessoalmente atrás de seus novos integrantes. Era uma manhã de quinta-feira,
estávamos - eu e minha família – reunidos para o café, quando menos espero,
militares entram arrombando a porta e rendendo todos que na casa estavam.
Avisaram que iam me recrutar para a guerra, mas idiotamente recusei, pior
decisão da minha vida. Com essa recusa, eles me espancaram, bateram no meu
filho mais velho, Thomas, que tentou me ajudar. Aqueles filhos da puta
estupraram minha filha e minha esposa na frente (choro), espancaram-nas também.
Isso foi muito doloroso pra mim, minha vontade era de mata-los, mas não podia. Estava
igual um verme, machucado no chão.
Fui recrutado e com uns três ou quatro anos já era
comandante, mas não com todo poder, eles me negavam em todas as reuniões
importantes. Porém, teve uma que eu consegui ver e ouvir, de forma ilícita, mas
consegui. Eram experimentos com judeus, eles eram submetidos a congelamentos,
descargas elétricas, doenças experimentais e a outras barbaridades que nem o
pior ser humano do mundo merecia, com exceção de Hitler. Esse era o único que
merecia passar por isso. Eu consegui salvar um judeu, não sabia seu nome, mas
nesse dia ele me viu e implorou com gestos a minha ajuda. Eu era contra aquilo
tudo de ideias racistas, estava lá por falta de escolha, ou tava lá ou tava
morto. Contudo, nesse dia, não sei o que houve comigo, ajudei-o sabendo que
agora estava com a cabeça a prêmio. Resgatei-o e consegui esconde-lo, não sei
bem onde era, mas consegui. Dias depois ele fugiu sem dar notícias. Eu o
alimentei e ‘curei’ durante os dias anteriores a sua fuga.
Durante uma expedição, encontrei-o escondido em uma
construção subterrânea na Polônia. Daí ele me convenceu a largar o exército e
fugir, voltar para casa. Fui convencido e a aventura foi grande.
Atravessei a Alemanha até chegar Köln (Colônia), minha
terra natal. Durante o trajeto, passamos e lutamos contra frentes de batalha. O
mais difícil foi sair da Polônia, lutei com uma metralhadora simples, porém foi
o suficiente para dar tempo de escapar. Mas,
ainda, meu colega judeu foi atingido um pouco depois da fronteira. Tive que
socorrê-lo, pois tinha que continuar a caminhada, a sorte foi que aprendi
algumas noções de primeiros socorros. Foram quase dois meses a pé, e, uma vez
ou outra, arrumávamos uma carona. Contudo, isso era raro e quando acontecia era
de forma clandestina.
Passado esse tempo, chegar em casa foi uma emoção
surreal, abracei minha esposa por uns dez minutos em silencio e depois abracei
meus filhos. A guerra, uns anos depois, acabou e a Alemanha mais uma vez foi
derrotada. Infelizmente, voltamos à merda, mas essa era uma merda que eu
gostava, pois tinha voltado para casa, para minha família e para minha vida que
eu tanto amava, na natureza e coisas parecidas.
Quanto ao amigo judeu, aprendi seu nome ao atravessar a
fronteira, chamava-se Isaac Haddad, tinha 38 anos e era de origem espanhola. Tinha
ido pra Alemanha ver se conseguia uma vida melhor. Ele morreu faz três dias,
17/08/1976, e antes de morrer, eu queria fazer essa homenagem a ele, dizer tudo
o que ele sofreu e o que acontecia internamente no holocausto. Espero que
esteja bem onde estiver. Aqui digo o adeus final a meu amigo de guerra. Adeus!